O leitor brasileiro nunca deu muita bola para o noticiário internacional. Assim, os jornais nacionais dedicam pouco espaço às coberturas das tendências que se passam no planeta. Somos muito fechados, ensimesmados, encaramujados. Somos o 26º exportador do mundo. Participamos com minguado 1,2% do comércio global. O turismo reflete esse encapsulamento. Sequer entramos na lista dos 50 países mais visitados.
Escreveu Paulo Francis em maio de 1989, portanto há quase 29 anos: “O Brasil vive numa cápsula suspensa no tempo, imune a qualquer fluído dos estranjas”. Do descobrimento, em 22 de abril de 1500, até a dita abertura dos portos às nações amigas, em 28 de janeiro de 1808, a relação comercial brasileira era feita única e exclusivamente com Portugal. A tão celebrada abertura dos portos se resumia apenas ao direito de o Brasil comercializar com a Inglaterra. E ponto.
As travas nas relações com o mundo sempre fizeram parte de nossos vícios históricos. Temos de deixar de ser uma autarquia do mandonismo, do coronelismo, do clientelismo, do compadrio que sustenta as relações incestuosas entre os cartéis econômicos e o mundo oficial, aí incluindo a burocracia estatal.
Eis que os brasileiros vêm mostrando uma surpreendente e vigorosa disposição de, enfim, se tornarem protagonistas de sua própria história, espanando as fuligens do passado, entre elas a anacrônica legislação trabalhista de 1943, a insaciável miscelânea do intricado sistema tributário, o Estado que consome 40% da renda nacional e entrega ao povo serviços públicos de péssima qualidade. É disso que vamos tratar nas urnas, em outubro, daqui a seis meses. Eis o Brasil se reinventando neste início do século XXI.
As potencialidades brasileiras são as mais ricas e vastas do planeta. Um mercado consumidor – ainda a ser revelado – de imensas e descomunais proporções. Terras a perder de vista, fartura de sol e água, 16,8 mil quilômetros de fronteiras com oito países da América do Sul, a maior economia da América Latina.
São 60 milhões os brasileiros situados nas faixas etárias que vão dos recém-nascidos até os 34 anos de idade. As crianças, os adolescentes e os jovens adultos de nosso país representam uma população 40% maior do que o total dos habitantes da Argentina, (43 milhões de habitantes), 66% maior do que a do Canadá (36 milhões) e 160% maior do que a da Austrália (23 milhões).
O Brasil está prestes a oferecer ao mundo o exemplo de uma renovada democracia social e liberal, combinando o livre mercado com a inclusão socioeconômica de vários milhõesde crianças e jovens, que viverão nos ambientes estruturados de suas famílias, escolas, praças e ruas. Um país que ajudará o mundo a encontrar eixo e prumo.
O renascimento brasileiro floresce em meio a uma era de caos em várias partes do mapa-múndi. Há o agressivo e imprevisível Donald Trump bagunçando a política externa americana – agora, sem mais nem menos, impõe sanções comerciais de US$ 100 bilhões à China. Há um norte-coreano ameaçando os Estados Unidos e o Japão com a bomba atômica que acabou de fabricar.
Há uma União Europeia entrando em parafuso, depois da saída da Inglaterra. Há o Oriente Médio aprofundando (desta vez, com epicentro na Síria) a sua velha e irresolvível crise, em uma barafunda tecida na aliança entre a Turquia e Rússia. Há as eleições recentemente realizadas na Itália e na Hungria, que fazem avançar a direita populista e xenófoba.
A gente precisa saber disso tudo, acompanhando o noticiário internacional. Temos de sair da toca. Abrir nossos corações e mentes. Vamos ver, com muita clareza, que o que temos a fazer está ao alcance das mãos. Olhando ao nosso redor, podemos constatar que a solução das nossas questões está aqui dentro mesmo. É arrumar a casa, desburocratizando-a, ajeitando a previdência social e as contas públicas, reduzindo o número de partidos, eliminando os privilégios das altas castas do mundo oficial, sufocando a bandidagem, criando viveiros de empreendedores no país inteiro.
Temos muito a ensinar ao mundo, se formos fiéis aos valores da nossa gente e à riqueza de nossa terra. Vamos dar a largada, daqui a pouco, em outubro.
*Paulo Solmucci é presidente da União Nacional das Entidades de Comércio e Serviços
(Unecs) e presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
Fonte: Destrinchando